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Eduarda Lapa (1895-1976)

Esta plataforma digital tem como objectivo divulgar e enaltecer o trabalho e a vida de Eduarda Lapa, uma das pintoras portuguesas mais importantes do século XX. Deste modo, pretendemos proporcionar uma visão abrangente acerca da sua obra, abordando não apenas informações públicas da sua carreira como pintora, mas também revelando aspetos mais privados e pessoais que contribuíram para a formação da sua identidade enquanto artista.

Este trabalho apenas foi possível graças à contribuição de dois membros da família de Eduarda, cuja ajuda foi essencial para a obtenção de informações e documentos inéditos. Estes contributos permitiram-nos criar um retrato mais completo e fidedigno da artista, oferecendo ao público uma visão mais íntima e detalhada da sua vida, obra e legados.

Eduarda Lapa foi uma memorável pintora portuguesa do século XX. Nascida em Trancoso, a 15 de outubro de 1895, o seu interesse pelas artes manifestou-se inicialmente em Coimbra, onde começou a sua formação. Ao longo da sua carreira, Eduarda Lapa tornou-se uma figura proeminente no panorama artístico português, sendo reconhecida pelo seu talento e pelo perfeccionismo das suas composições.

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Eduarda Lapa - 1943

Inês Lapa de Passos, sobrinha-neta de Eduarda Lapa.

 

Formação

Contributo, Conquistas e Legado da Pintora

Em 1942, tornou-se a primeira mulher a integrar os Corpos Diretivos da Sociedade de Belas Artes, o que marcou, não só a sua carreira, mas também abriu caminho para futuras gerações de mulheres artistas. Neste contexto, organizou a primeira exposição feminina de artes plásticas, que reuniu 175 obras, entre as quais duas eram de sua autoria. 

Anos mais tarde, a 2 de junho de 1950, a pintora foi agraciada com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, uma distinção que reconhece méritos literários, científicos e artísticos em Portugal.

Eduarda Lapa destacou-se, principalmente, pela sua capacidade de capturar em tela a efémera beleza e delicadeza das flores, sendo por isso reconhecida com o título de “Pintora das Flores”. Durante e após o seu período de vida, as exposições em seu nome eram amplamente admiradas. 

 

 

Deste modo, o legado da pintora perdura não apenas através das suas obras, mas também no reconhecimento público que recebeu. Este reconhecimento é evidente nas várias homenagens prestadas à artista. Em Lisboa e noutras cidades de Portugal, como Sesimbra, Tavira e Seixal, ruas foram nomeadas em sua honra, perpetuando a sua memória e contribuição para a arte portuguesa.

 

Lápide de Homenagem na Antiga Casa de Eduarda Lapa

Também a casa em que viveu em Lisboa, na Rua Capitão Renato Baptista n°86, continua devidamente identificada, possuindo desde 15 de novembro de 1996 uma lápide colocada pela Câmara Municipal de Lisboa que informa que aí viveu e faleceu a artista, de modo a educar a população sobre a sua vida e obra, integrando-a de forma tangível na paisagem urbana da cidade.

Personalidade e Estilo de Vida da Pintora

A pintora era conhecida pela sua espontaneidade. Muitas vezes, ao ver algo que a inspirava, como um arranjo de flores, sentia imediatamente a necessidade de capturar aquela imagem. Eduarda Lapa, carregava sempre consigo as suas tintas e pincéis, pronta para pintar em qualquer lugar, como na casa de amigos, por exemplo. Esta, frequentemente, improvisava pinturas em objetos disponíveis, como pratos, que depois oferecia aos anfitriões como presente o que demonstra a sua necessidade constante, não só de pintar, mas também de partilhar a sua arte.

Prato Pintado por Eduarda Lapa, 1916

Para os padrões da sua época, a pintora era uma mulher moderna, independente e feminista. Optou por não casar, uma escolha deliberada para preservar a sua liberdade e dedicação total à arte, consciente de que um casamento tradicional poderia restringir as suas oportunidades artísticas. Apesar de sua dedicação profissional, ela era muito carinhosa e mantinha um vínculo estreito com sua família, especialmente com os seus sobrinhos, Maria Manuela e Jorge Passos, filhos da sua irmã Ana.

Eduarda Lapa sublinhava, muitas vezes, a importância das molduras e como estas desempenhavam um grande papel no embelezamento de uma pintura. É por este motivo, que várias das suas pinturas são adornadas por bem trabalhadas molduras douradas.

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Natureza Morta – Dálias

Parkinson e Mudança na Técnica

Foi durante a década de 1960 que Eduarda Lapa é diagnosticada com Parkinson, ocorrência que viria a afetar a sua vida pessoal, mas também, e em grande parte, a sua forma de pintar. Sendo o tremor o principal sintoma desta doença, este foi um momento de reviravolta na carreira da pintora. Esta exprimiu a sua condição através de novas técnicas de concessões artísticas, nomeadamente, procurando um traço mais esbatido, oferecendo aos seus quadros uma aura mais etérea, puxando para o Impressionismo do século XIX. Apesar deste ter sido um evento inesperado e negativo para a saúde de Eduarda Lapa, a crítica acolheu bem a mudança de estilo da pintora, mencionando a grande inovação e dinamismo que os seus quadros passaram a mostrar. 

Sónia Lapa de Passos, sobrinha-neta de Eduarda Lapa.

Viagem-Paris-1-2
Embarque no Comboio para Paris, Eduarda e uma Amiga, Anos 60

Memórias

Inês Lapa de Passos e Sónia Lapa de Passos apenas conviveram com a sua tia-avó durante os primeiros anos da infância (a pintora viria a falecer no ano de 1976). Apesar das poucas memórias, as sobrinhas recordam Eduarda Lapa como uma mulher totalmente devota à sua paixão pela pintura, mesmo nos seus últimos meses de vida.

Além de uma artista nata, Eduarda Lapa era também uma grande protetora da sua família, que tratava sempre com grande prioridade e  mantinha sempre por perto. O legado da pintora mantém-se muito vivo dentro dos seus familiares, sendo transmitido de geração em geração com grande carinho e admiração. Mesmo já bastante afetada pela doença que condicionou aquilo que mais gostava de fazer, Eduarda Lapa manteve-se ativa até ao fim, produzindo incontáveis obras.

Será para sempre lembrada como a “Embaixadora das Flores”

“Custe o que Custar, serei fiel à minha vocação”

Eduarda Lapa

Isaura Martins

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