Naquela noite, a mansão Almeida estava estranhamente vazia. Nenhum empregado. Nenhum som de rotina. António Almeida, o temido patriarca da família, tinha sido claro: “Hoje, só família.” Um pedido invulgar, quase desconfortável (numa casa onde nunca se mexia um dedo sem ajuda profissional). O motivo do jantar? Ninguém sabia ao certo…
Susana, a sua elegante e jovem esposa, era quem preparava o jantar. Um gesto inesperado, até inquietante, vindo de alguém habituada a dar ordens e não a descascar legumes. Margot, a assistente alemã de António, andava de sala em sala, a verificar tudo com o seu olhar clínico e distante. Conferia a mesa, endireitava os quadros, verificava as luzes. Como sempre só pensava repetitivamente: “Alles muss perfekt sein…” (Tudo tem de estar perfeito), nada lhe escapava ao controlo. Os convidados foram chegando. Serafim, o filho de António, mantinha-se calado a maior parte do tempo, os olhos cravados num ponto invisível da sala, sempre perdido nos seus pensamentos e projetos. Porém, hoje ele encontrava-se claramente desconfortável, talvez ainda a remoer as tensões antigas com o pai. E por fim, Alexandre… “Cheguei, cheguei!! Ainda vou a tempo da sopa?”. Alexandre, o irmão mais novo e eterno boémio, chegou atrasado como de costume, com um sorriso despreocupado cheio de histórias para contar.
Já sentados à mesa, após entradas e brindes formais, sentia-se uma certa tensão no ar. Algo estava fora do lugar. E todos pareciam saber disso, mesmo que ninguém dissesse nada. António ergue-se com a presença imponente que sempre o definira, sem rodeios, limpou a garganta para fazer o anúncio que mudaria tudo: “Recebi recentemente um diagnóstico… preocupante. Um ano, talvez menos. Por isso, tomei uma decisão. A maior parte da minha fortuna será doada a instituições de caridade.” Os seus herdeiros? Receberiam apenas objectos simbólicos, peças pessoais que, segundo ele, carregavam mais valor do que qualquer cifra.
O choque foi imediato. As expressões contidas deram lugar a olhares vazios, respirações suspensas. Ninguém falou. Mas cada um pensava no mesmo: a herança estava a escapar-lhes por entre os dedos.
Pouco depois, António afastou-se da mesa. Disse, com voz contida mas firme, que ia até ao escritório buscar o novo testamento. Antes de sair, pousou a mão no ombro da mulher e pediu-lhe:
— Susana, traz-me um copo do meu vinho preferido, por favor?
E saiu. Levou consigo apenas o silêncio desconfortável que se abateu sobre os restantes. Era como se todos tivessem ficado à espera de uma tempestade prestes a cair.
Minutos depois, Serafim levantou-se. Disse apenas:
— Preciso de falar com o pai.
E saiu atrás dele. Entretanto, Susana ergueu-se da mesa. Sem uma palavra. O rosto sereno, os olhos frios. Caminhou até à cozinha com passos decididos, levando o frasco dos comprimidos de António… e a garrafa do vinho que ele pedira.
Já na cozinha, com os dedos a apertar o gargalo da garrafa, sentiu uma presença familiar atrás de si. Alexandre. O cunhado. O amante.
— Estás sempre bonita quando ficas nervosa — murmurou ele.
Ela não respondeu. Apenas sorriu com os lábios, sem alegria.
A tensão entre os dois era elétrica, conhecida. Um hábito escondido entre sombras e silêncios. Susana queria aproveitar aquele instante, ter aquele momento a sós, sem olhares — como sempre tinham sempre feito, longe de todos, longe de António. Por isso, sem hesitar, entregou o copo já servido e o frasco de comprimidos a Margot, que passava pela cozinha para verificar se tudo estava em ordem.
— Entrega isto ao senhor Almeida — disse apenas.
Margot assentiu. Não era estranho ser ela a resolver os pequenos detalhes.
E foi assim que Margot, com o profissionalismo habitual, bateu discretamente à porta do escritório. Entrou. Entregou o copo e os comprimidos ao patrão, que encontrava-se envolto numa discussão tensa com Serafim. Ouvia-se a tensão a ferver. Vozes exaltadas. Palavras cortantes. Feridas antigas rasgadas sem cerimónia.
Pouco depois, Serafim regressou à sala. O rosto sem cor, os olhos distantes. Voltou ao seu lugar e não disse uma palavra. Todos retomaram os seus lugares. Todos… menos António.
Foi então que se ouviu o som. Primeiro, um estalo seco, depois, o estrondo de vidro a estilhaçar-se — brutal, abrupto, violento.
A mesa ficou em suspenso. O ar, denso. Um silêncio de morte.
Todos se levantaram de imediato e correram para o escritório.
A porta estava entreaberta. Susana grita.
Lá dentro, António Almeida jazia no chão, imóvel. O copo tombado. O vinho espalhado como sangue fresco sobre o tapete. O seu rosto… preso entre o espanto e a agonia.
O caos instalou-se. Nessa noite o homem mais poderoso daquela casa estava morto. E entre os presentes… estava o assassino. O legado de um homem terminou antes da sobremesa mas o mistério… esse, estava apenas a começar.
Afinal?… Quem matou António Almeida?
Comecemos, então, por dar uma olhada de forma mais aprofundada ao que se passou momentos antes do crime – o que é que se viu, o que é que se ouviu? Foi tudo muito rápido, mas ainda foi possível registrar alguns barulhos…
Vamos, agora, conhecer um pouco melhor os nossos suspeitos. Quem são, qual a sua relação com António Almeida, e quais serão os seus possíveis motivos?
Bem, as informações acima são úteis, certamente, mas não suficientes para nos fazer chegar ao núcleo da questão – fomos interrogar os nossos suspeitos. Onde estavam no momento do crime? Qual foi a sua reação ao anúncio do senhor Almeida? Qual o seu álibi? Vamos ver agora…
Antes de conseguirmos ter qualquer certeza, vamos antes analisar com mais detalhe a cena do crime. Os nossos profissionais captaram uma foto, um pouco escura, do escritório de António algumas horas depois do seu falecimento. O que podemos observar de mais intrigante aqui?
Bem… chegou, agora, a derradeira hora. Foi, claramente, cometido um crime, e é preciso desvendá-lo. Afinal, quem matou António Almeida, e como? Achas que consegues descobrir?
E está o crime resolvido… agora que já sabes quem o cometeu e como, conseguiste prever o desenrolar desta trama?
Trabalho realizado por:
Eduarda Gonzaga – a2023128353@campus.fcsh.unl.pt
Gelissa Aljofre- a2023141861@campus.fcsh.unl.pt
Tiago Silva – a2023121424@campus.fcsh.unl.pt
Valentina Franchi – a2023123783@campus.fcsh.unl.pt