Ler Devagar

A história da Ler Devagar remonta a 1999, quando foi fundada no Bairro Alto, fruto do sonho do livreiro José Pinho. A livraria faz parte da associação Rally, que reúne as livrarias independentes de Portugal. A ideia era criar mais do que uma livraria — um ponto de encontro para leitores, artistas e curiosos, onde os livros fossem apenas o início de conversas e debates.

O nome Ler Devagar deriva da ideia de que “tudo o que é bom e bem feito é feito com vagar”!

Raquel Santos, membro da administração da Ler Devagar, explica como a livraria se destacou, desde cedo, ao oferecer material em várias línguas, com destaque para temáticas políticas ou  autores politizados – algo pouco comum, especialmente em versões traduzidas para português. No entanto, Raquel sublinha que a livraria “nunca se demarcou politicamente, ou seja, nunca foi um espaço que só aceitasse determinadas ideias”.

Em 2009, após ser despejada do antigo espaço, mudou-se para Alcântara, e juntou-se à  Lx Factory,  ocupando as instalações da antiga Gráfica Mirandela. Hoje, a Ler Devagar não é só uma livraria; é também uma biblioteca, cafetaria, loja de discos e até um museu vivo. Quem por lá passa é encorajado a explorar o espaço com um total “à vontade” — folheando livros e, quem sabe, até terminar uma leitura inteira.

“(A Ler Devagar) era um espaço comercial, onde não era obrigatório entrar, ver, comprar e sair. Era mesmo encorajado estar a beber um café, a ficar para ler (…) inclusive os livros que estavam à venda, o que era uma coisa extremamente bizarra.”

– Raquel Santos

Ao entrar-se na Ler Devagar é impossível não recordar quem veio antes. O passado industrial da Fábrica de Malte pode estar longe, mas a maquinaria da antiga Gráfica Mirandela ainda domina o espaço, sendo uma recordação imponente do passado. O ambiente histórico do espaço não permite o esquecimento de parte da herança industrial que perdura na livraria.

Espaço da Fábrica de Malte em 1916. Foto: Restos de Coleção
Primeiro andar da Ler Devagar em 2024

A gráfica começou nos anos 60, no Cais do Sodré, como uma pequena tipografia fundada por Valentim Morais. Ao mudar-se para Alcântara, em 1987, tornou-se uma referência, com a maior rotativa de jornais do mundo. Durante anos, foi naquele espaço que se imprimiram inúmeras edições de jornais que  continuam a circular nos dias de hoje, como o Expresso, A Bola e o Público. 

A Gráfica Mirandela, ao ser a única gráfica da região com rotativas, imprimiu todos os jornais revolucionários na época do 25 de abril.

Em 2005, com a chegada de uma nova máquina que permitia imprimir dois jornais em simultâneo, o tamanho da rotativa viu a gráfica obrigada a sair de Alcântara. Assim, foi quase imediata a saída da gráfica e a entrada e ocupação por parte da Ler Devagar. Atualmente, Raquel reflete como ocupação foi gentil, tendo a livraria se desenvolvido à volta do que já lá estava, de forma figurativa e literal.

“(O passado da gráfica Mirandela) acabou por se misturar e ficar muito ligada à nossa imagem. Mas é importante dizer que a imagem industrial não é algo com que a Ler Devagar tenha nascido.”

– Raquel Santos

Pietro Proserpio: Gentil Ocupante

Pietro Proserpio é um artista italiano conhecido pelas suas “máquinas poéticas”, peças artísticas e cinemáticas que combinam movimento e criatividade

As obras do artista refletem uma profunda criatividade e habilidade em transformar materiais comuns em peças artísticas que evocam reflexão. Pietro acredita na importância de criar “coisas inúteis” que estimulem o pensamento e a imaginação, oferecendo uma perspectiva única sobre a relação entre arte, tecnologia e humanidade.

Em 2009, lançou uma exposição na Ler Devagar, que se desenvolvia em volta da rotativa. Durante anos o artista recebeu pessoas e mostrava-lhes a sua arte, até que em 2023  deixou de ter capacidade para subir as escadarias da livraria e a exposição foi fechada. Grande parte das peças artísticas foram devolvidas, ficando apenas a bicicleta com asas, visto esta ter-se tornado um ícone da Ler Devagar.

Atualmente, no local onde estava parte da exposição de Pietro Proserpio encontra-se um conjunto de artigos afixados, sobre o seu trabalho, que funcionam como um memorial, mantendo viva a presença do artista no espaço e perpetuando o seu legado criativo

Submit a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *