Ao meu Querido Fado,
Escrevo-te, a ti, com o coração repleto de gratidão e respeito, como quem agradece a um velho amigo que sempre esteve presente, tanto nos momentos de alegria como nos de tristeza.
A tua voz serena e tenra ressoa em mim como uma melodia eterna. Cada nota tua expressa profundamente sentimentos tanto de amor, como de sofrimento, embalando a minha alma e deixando no meu coração uma melancolia que perdura sempre.
Fado, tens a capacidade de transformar as emoções mais intensas em poesia e criar uma harmonia que toca o íntimo de todos nós.
As tuas melodias acompanham-me desde pequenino, foste a minha infância, adolescência, idade adulta, és e sempre serás a minha vida. Sempre me dediquei e dedicarei a Ti.
Tu, Fado, és uma dádiva, parte essencial da nossa identidade cultural. Canto-te com orgulho e convicção, sabendo que não és algo que se estuda ou se aprende. És uma bênção com a qual nascemos, uma parte intrínseca de quem somos. És a voz da nossa alma, que reflete os nossos sentimentos mais profundos. Estás presente em tudo.
Hoje, quero agradecer-te, Fado, por tudo o que representas. Por seres o consolo nas noites solitárias, o alívio nas dores do amor, a celebração nos momentos de felicidade. Por seres a herança viva que une gerações, o laço invisível que nos conecta ao nosso passado e nos projeta no futuro.
Lembro-me das primeiras vezes que te ouvi, nas ruas de Lisboa, sob a luz amarela dos candelabros, em noites tranquilas. As vozes dos fadistas ecoavam nas ruelas estreitas, trazendo consigo histórias de vidas vividas com intensidade. Cada palavra tua era um convite para mergulhar num mar de emoções, onde a tristeza e a beleza coexistiam de forma harmoniosa.
És mais do que uma forma de arte; és uma maneira de viver, de sentir o mundo ao nosso redor. Ao cantar-te, sinto-me ligado a todos aqueles que vieram antes de mim, aos que cantaram as suas alegrias e as suas mágoas, as suas esperanças e os seus desencantos. És a nossa memória coletiva, o nosso diário emocional.
E é esse dom, essa capacidade de tocar o coração das pessoas, que faz de ti algo tão especial. Em cada acorde, em cada verso, há uma verdade universal que nos une a todos. O teu poder reside na simplicidade e na sinceridade, na maneira como capturas a essência da experiência humana.
Obrigada, Fado, por seres a minha inspiração constante, a minha companhia fiel, a minha voz quando as palavras me faltam. Obrigada por me dares a oportunidade de expressar aquilo que muitas vezes é indizível, por me permitires partilhar a minha alma com o mundo através da tua melodia.
Com gratidão e amor,
José
A personagem ficcional José dos Santos foi encarnada pelo João Nunes na casa de fados Tasca do Chico de Alfama.